sexta-feira, 27 de maio de 2011

Heavy Metal x Massas

Nada a ver com a Itália. As massas às quais me refiro são àquelas que os professores de história adoram xingar. O "povão". O povão, como o nosso governo facilmente demonstra, é muito manipulável e costuma apresentar uma certa falta de cultura (leia-se ignorância). O povão é a peça-chave das culturas das massas. De um modo simples e direto, o que o povão curte é o que a indústria de massas vende. O povão curte porque a indústria vende e a indústria vende porque o povão gosta, uma relação recíproca.


O heavy metal, quase que por definição, nunca fez parte dessa relação, já que é um estilo pouco comercial. Algumas bandas conseguiram se tornar nomes gigantescos no cenário da música mundial e acabaram sofrendo alguma consequencia dessa relação, entre elas, o exemplo mais gritante é o Metallica, que teve o seu período negro que foi desde o Load até o St. Anger. Mas fora isso, o heavy metal não é comercial.

O gosto do povão é algo que varia muito de país para país. No Estados Unidos, o rap/hip-hop (não sei muito bem a diferença) e o pop predominam, com as bandinhas de rock alternativo e emo logo atrás. Na Europa, a cena é um pouco mais eclética, com banda de todos estilos sendo consideradas "mainstream", incluindo até algumas bandas de metal como o Epica, o Nightwish e o Children of Bodom. Na Argentina, fora a música latina, o gosto predominante é o rock, geralmente cantado em espanhol. No Brasil, a gente possui uma infinidade de gêneros musicais apreciados pelas massas: Axé, Pagode, Pseudo-Emo, "Rock" Colorido, Sertanejo.... Todos esses estilos são diferentes, mas possuem uma característica em comum: Eles são uma merda, musicalmente. Infelizmente, os argentinos nos ganham no quesito gosto musical...


Numa conversa (leia-se: discussão/briga) de alguém que aprecia estes malditos gêneros de música com algum headbanger, eles usam sempre o mesmo argumento: "Ah, mas vocês ficam só escutando esse barulho."


Ok, pagodeiros e coloridos, eu tenho uma grande novidade para vocês: O "barulho" (metaleiros, leiam peso) é só mais uma característica da música, que forma parte da estética. Antes que os trues que leiam esse texto comecem a achar que eu estou falando de moda ou beleza, deixem eu me explicar. Umas das definições existentes para "o que é música" é: "Música é a linguagem ordenada dos sons, seguindo as leis da estética". As leis da estética definem como a música deve soar, o metal tem uma estética, o jazz tem outra, e assim por diante. De um modo mais direto, imagine que a estética do death metal é a estética do "bruto". A do rock colorido, seria a estética da "gazela saltitante no campo das flores coloridas".


O peso de uma música é só mais uma característica da música, assim como as músicas eletrônicas tem um apelo dançante e as músicas pop tem letras grudentas. É um jeito da música ser, as pessoas podem gostar ou não disso, mas isso não influencia no fator barulho. Uma bandinha de garagem faz barulho, porque não existe nenhumum fator equalizador por lá. Essa bandinha pode tocar desde Pink Floyd até Cannibal Corpse, mas vai ser barulhento.


Musicalmente falando, o heavy metal é bastante complexo. Mesmo sem contar com os deuses do prog metal Dream Theater (que desequilibram a balança), o heavy metal tem uma "cozinha" musical complexa. Em todas as vertentes do heavy metal, o solo de guitarra é uma realidade muito presente. Guitarristas gostam de se divertir tocando guitarra, logo, os solos serão difíceis e técnicos, e isso sem falar da quase onipresente batalha de egos entre os guitarristas de diferentes bandas. Vários bateristas usam e abusam do pedal/bumbo duplo, altos andamentos e batidas quebradas. Os baixistas existem aqueles que preferem ficar na cavalgada estilo Iron Maiden e aqueles que tem um estilo mais virtuose, utilizando técnicas como o Two-Hands ou então "fritando" (leia-se: tocar rápido) mesmo. Os vocalistas dos estilos não extremos costumam ter timbres mais agudos, mas tambem tem aqueles que usam uma mais "rasgada" e grave (estilo Motorhead). Nos estilos extremos, o vocal gutural é onipresente. E tudo isso que eu falei são aspectos básicos sobre o modo de tocar, não cheguei perto de falar de tipos de cadências, harmonias e arranjos que costumam ser usados por bandas de heavy metal. Falar disso ia ser profundamente monótono, inclusive acredito que ao ler este parágrafo, vocês apenas leram a primeira frase e pularam direto para o final dele. E após esse comentário vocês vão tentar lê-lo de novo, mas não vão ter paciência para ler tanto assim. E isso que eu apenas falei de algum imensamente superficial.


As bandas de heavy metal são muito mais musicais que as bandas comerciais. E isso que eu nem falei na comparação entre a seriedade, a imagem e a parte lirica entre esses dois lados. Para não ocupar Muito espaço, nos próximos parágrafos eu vou abordar esses temas de um modo mais direto.


- Seriedade: Quantas foram as pessoas que ao ouvirem Restart pensaram: "Que porra é essa?" Dá pra levar a sério uma banda como essa? E uma banda de pagode? Seriedade e pagode são dois opostos, e um exemplo disso é a reação do cara do Parangolé depois que os músicos do Angra o acusaram de plágio. Caso não se lembrem desse episódio, vocês podem conferir em umas das nossas postagens anteriores. Façam suas próprias conclusões.


- Imagem: Ok, metaleiros usam preto. E jeans. E spikes. Só. Concordo que não é nada muito criativo, mas é muito melhor usar uma cor neutra, como o preto, do que usar combinações de laranja com azul ou verde com rosa ou a merda que for. E quanto a imagem não-vestuária dos coloridos, eles são, sem sombra de dúvida, bestas quadradas. Alguém que trabalha com música, deve ao menos ter NOÇÃO do que é a Zona Franca de Manaus. Eu não sou nenhum expert no assunto, mas eu sei que pelo grande parte dos cds do Restart são produzidos lá, assim como boa parte dos cds de heavy metal que achamos nas lojas por aí. E um dos integrantes do Restart me larga uma do tipo: "Ai, eu queria tocar no Amazonas, mas eu não sei nem se lá tem civilização, gente civilizada". Façam suas próprias conclusões.


- Conteúdo lírico: Certo, certo. "Metal só fala de sangue e morte, e essas coisas nojentas". Outra dessas frases que nós headbangers somos obrigados a escutar. Errados mais uma vez, o povão generaliza o conteúdo do heavy metal. Nós temos uma abrangência lírica enorme. Temos letras baseadas em religião (White Metal, Mr. Crowley do Ozzy e In the Name of God do Dream Theater são os primeiros exemplos que eu me lembro), história (Slayer fala sobre o holocausto, o Iron tem suas músicas históricas como Alexander the Great), assuntos filosóficos (O The Sound of Preseverance do Death é um baita exemplo), fora as dezenas de álbuns conceituais (Angra - Temple of Shadows, Symphony X - Paradise Lost, Dream Theater - Scenes from a Memory, Blind Guardian - Nightfall in Middle Earth, Rhapsody, Avantasia, entre diversos outros). Literariamente falando, as letra do heavy metal sofrem influências românticas e góticas, sem falar do tema de horror abordado por várias músicas. E tem as letras ainda que fala de relacionamentos, problemas mentais, heavy metal, mitologias nórdica, egípcia e grega, já vi usarem temáticas japonesas também... É o suficiente? Comparem agora com o resto e façam suas próprias conclusões.


Enfim, eu respeito não gostarem do heavy metal. Mas alguém que escuta Cine ou Exaltasamba não tem condições, nem o direito, de dizer que o heavy metal é inferior. Heavy metal não é para todo mundo ouvir. E até melhor que o nosso estilo seja underground. Mas nenhum argumento que geralmente usam contra a nossa música é válida. Já os nossos sãos pelo menos baseados em fatos. Se alguém curte rebolar ao som de Rebolation, o problema não é meu. Mas não tem nem sequer a moral para sair criticando o heavy metal.


Isso aí galera, até o próximo post. Mal pela pequena ausência de posts...

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